Regular Expressions 101

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    ^
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    $
  • A word boundary
    \b
  • Non-word boundary
    \B

Regular Expression

/
/

Test String

Code Generator

Generated Code

package main import ( "regexp" "fmt" ) func main() { var re = regexp.MustCompile(`<p class="Capitulo-novo" id="toc_marker-\d+"><span class="Bold">(.*)?<\/span><\/p>`) var str = `<?xml version="1.0" encoding="utf-8" standalone="no"?> <!DOCTYPE html PUBLIC "-//W3C//DTD XHTML 1.1//EN" "http://www.w3.org/TR/xhtml11/DTD/xhtml11.dtd"> <html xmlns="http://www.w3.org/1999/xhtml"> <head> <title>As Crônicas de Gelo e Fogo - O Festim dos Corvos</title> <link href="../Styles/template.css" rel="stylesheet" type="text/css" /> </head> <body> <p class="Capitulo-novo" id="toc_marker-44444"><span class="Bold">PRÓLOGO</span></p> <p><span class="dropcaps">–D</span>ragões – Mollander disse. Pegou uma maçã estragada que estava no chão e a fez saltar de uma mão para a outra.</p> <p>– Atire a maçã – Alleras, o Esfinge pediu. Puxou uma flecha da aljava e a prendeu na corda do arco.</p> <p>– Eu queria ver um dragão – Roone era o mais novo do grupo, um rapaz atarracado ainda a dois anos de se tornar homem. – Queria muito.</p> <p><span class="Italic">E eu queria dormir abraçado a Rosey</span>, Pate pensou. Mexeu-se inquieto no banco. De manhã, a garota podia bem ser sua. <span class="Italic">Vou levá-la para longe de Vilavelha, para o outro lado do mar estreito até uma das Cidades Livres</span>. Lá não havia meistres, não existia ninguém que o acusasse.</p> <p>Ouvia as gargalhadas de Emma, vindas de uma janela fechada, por cima de sua cabeça, misturadas com a voz mais profunda do homem que estava com ela. Era a mais velha das mulheres que serviam no Pena e Caneca, tinha pelo menos quarenta anos, mas ainda era bonita ao seu jeito carnudo. Rosey era sua filha, tinha quinze anos e acabara de florir. Emma decretara que a virgindade de Rosey custaria um dragão de ouro. Pate poupara nove veados de prata e um cântaro de estrelas e moedas de cobre, mas isto de nada lhe serviria. Teria tido mais chances de trazer ao mundo um dragão de verdade do que de poupar moedas suficientes para uma de ouro.</p> <p>– Nasceu tarde demais para dragões, moço – disse a Roone Armen, o Acólito. Armen usava uma tira de couro em volta do pescoço, amarrada com elos de peltre, estanho, chumbo e cobre, e assim como a maioria dos acólitos, parecia pensar que os noviços tinham nabos crescendo entre os ombros no lugar da cabeça. – O último pereceu durante o reinado do Rei Aegon Terceiro.</p> <p>– O último dragão em <span class="Italic">Westeros</span> – insistiu Mollander.</p> <p>– Atire a maçã – Alleras voltou a pedir. Era um jovem atraente, aquele Esfinge. Todas as criadas tinham um fraco por ele. Às vezes, até Rosey lhe tocava no braço quando lhes trazia vinho, e Pate tinha de ranger os dentes e fingir não ver.</p> <p>– O último dragão em Westeros <span class="Italic">foi</span> o último dragão – disse Armen com teimosia. – Isto é bem sabido.</p> <p>– A <span class="Italic">maçã</span> – Alleras repetiu. – A menos que queira comê-la.</p> <p>– Lá vai – arrastando a perna de pau, Mollander deu um curto salto, rodopiou e arremessou horizontalmente a maçã para as névoas que pairavam sobre o Vinhomel. Não fosse o pé, teria sido um cavaleiro como seu pai. Tinha a força necessária naqueles braços grossos e ombros largos, e a maçã voou para longe e rápido demais...</p> <p>... mas não tão rápido quanto a flecha que assobiou em seu encalço, um metro de haste de madeira dourada com penas escarlates. Pate não a viu atingir a maçã, mas a ouviu. Um <span class="Italic">tchunc</span> suave ecoou por sobre o rio, seguido por um respingar de água.</p> <p>Mollander assobiou:</p> <p>– Em cheio. Boa.</p> <p><span class="Italic">Nem de perto tão boa quanto Rosey</span>. Pate adorava seus olhos cor de avelã e seus seios em botão, e o modo como sorria sempre que o via. Adorava as covinhas em seu rosto. Às vezes, ela andava descalça enquanto servia, para sentir a erva sob os pés. Também adorava aquilo. Adorava o cheiro limpo e fresco que ela exalava, o modo como os cabelos se enrolavam atrás das orelhas. Adorava até mesmo seus dedos dos pés. Uma noite, ela o deixara esfregar seus pés e brincar com eles, e Pate inventara uma história divertida para cada dedo, a fim de fazê-la sorrir.</p> <p>Talvez fizesse melhor em permanecer deste lado do mar estreito. Podia comprar um burro com o dinheiro que poupara, e Rosey e ele podiam montá-lo por turnos enquanto vagueavam por Westeros. Ebrose podia não considerá-lo merecedor da prata, mas Pate sabia como endireitar um osso e curar uma febre com sanguessugas. O povo ficaria grato por sua ajuda. Se conseguisse aprender a cortar cabelos e a fazer barbas, podia mesmo se tornar barbeiro. <span class="Italic">Isso seria o bastante</span>, disse a si próprio, <span class="Italic">desde que tivesse a Rosey</span>. Rosey era tudo que desejava no mundo.</p> <p>Nem sempre fora assim. Sonhara outrora ser meistre em um castelo, a serviço de um senhor generoso qualquer que o honrasse por sua sabedoria e lhe concedesse um belo cavalo branco como agradecimento por seus serviços. E quão alto o montaria, quão nobremente, distribuindo sorrisos aos plebeus quando passasse por eles na estrada...</p> <p>Certa noite, na sala comum do Pena e Caneca, após a segunda caneca de uma cidra terrivelmente forte, Pate gabara-se de que não seria noviço para sempre.</p> <p>– É bem verdade – gritara Leo Preguiçoso. – Vai ser um ex-noviço e criar porcos.</p> <p>Ele engoliu de um só trago o resto em sua caneca. Naquela manhã, a varanda iluminada a archote do Pena e Caneca era uma ilha de luz num mar de névoa. A jusante, o distante sinal luminoso da Torralta flutuava no relento da noite como uma lua alaranjada e brumosa, mas a luz pouco fez para melhorar-lhe o estado de espírito.</p> <p><span class="Italic">A esta hora o alquimista já devia ter chegado</span>. Tudo fora alguma brincadeira cruel, ou teria acontecido alguma coisa ao homem? Não seria a primeira vez que a fortuna cobria Pate de amargura. Uma vez achara-se afortunado por ter sido escolhido para ajudar o velho Arquimeistre Walgrave com os corvos, sem sonhar que logo também estaria buscando suas refeições, varrendo seus aposentos e vestindo-o todas as manhãs. Todos diziam que Walgrave esquecera mais da criação de corvos do que a maior parte dos meistres chegava a saber, por isso Pate assumira que um elo negro de ferro era o mínimo que poderia esperar, mas acabara por descobrir que isto era algo que Walgrave não poderia lhe dar. O velho continuava a ser arquimeistre apenas por cortesia. Por maior que tivesse sido como meistre, agora o mais comum era que suas vestes escondessem roupas íntimas emporcalhadas, e meio ano antes um grupo de acólitos o encontrara às lágrimas na Biblioteca, pois não fora capaz de encontrar o caminho de volta até seus aposentos. Era Meistre Gormon quem se sentava sob a máscara de ferro no lugar de Walgrave, o mesmo Gormon que um dia acusara Pate de roubo.</p> <p>Na macieira, à beira d’água, um rouxinol começou a cantar. Era um som doce, uma pausa bem-vinda nos gritos roucos e no crocitar sem fim dos corvos de que cuidara o dia inteiro. Os corvos brancos conheciam seu nome, e o resmungavam uns para os outros sempre que o vislumbravam, “<span class="Italic">Pate, Pate, Pate</span>”, até deixá-lo a ponto de gritar. As grandes aves brancas eram o orgulho do Arquimeistre Walgrave. Desejava comê-las quando ele morresse, mas Pate andava meio desconfiado de que as aves também pretendiam comê-lo.</p> <p>Talvez fosse a cidra terrivelmente forte – não viera para beber, mas Alleras se encarregara de pagar, para festejar seu elo de cobre, e a culpa dera-lhe sede –, mas quase soava como se o rouxinol estivesse trinando <span class="Italic">ouro por ferro, ouro por ferro, ouro por ferro</span>. O que era muitíssimo esquisito, pois tinha sido aquilo que o estranho dissera na noite em que Rosey os apresentara.</p> <p>– Quem é você? – Pate perguntou, e o homem respondeu:</p> <p>– Um alquimista. Sei transformar ferro em ouro – e, então, tinha uma moeda na mão, dançando sobre os nós dos dedos, fazendo brilhar o suave ouro amarelo à luz das velas. De um lado, havia um dragão de três cabeças, do outro, a cabeça de um rei qualquer morto. <span class="Italic">Ouro por ferro</span>, recordou Pate, <span class="Italic">não conseguirá melhor. Você a deseja? Você a ama?</span></p> <p>– Não sou nenhum ladrão – disse ao homem que se designava alquimista. – Sou um noviço da Cidadela.</p> <p>O alquimista inclinou a cabeça e disse:</p> <p>– Se reconsiderar, voltarei aqui dentro de três dias, com meu dragão.</p> <p>Tinham se passado três dias. Pate regressara ao Pena e Caneca, ainda incerto do que ele seria, mas, em vez do alquimista, encontrara Mollander, Armen e o Esfinge, com Roone a reboque. Teria levantado suspeitas se não se juntasse a eles.</p> <p>O Pena e Caneca nunca fechava. Havia seiscentos anos que se erguia em sua ilha no Vinhomel, e nem por uma vez deixara de funcionar. Embora o alto edifício de madeira se inclinasse para o sul, como os noviços por vezes após beber uma caneca, Pate supunha que a estalagem continuaria em pé por mais seiscentos anos, vendendo vinho, cerveja e cidra terrivelmente forte a homens do rio e do mar, ferreiros e cantores, sacerdotes e príncipes, e aos noviços e acólitos da Cidadela.</p> <p>– Vilavelha não é o mundo – Mollander declarou, alto demais. Era filho de um cavaleiro, mas não poderia estar mais bêbado. Desde que lhe tinham trazido a notícia da morte do pai na Água Negra, embebedava-se quase todas as noites. Até em Vilavelha, longe das batalhas e em segurança atrás de suas muralhas, a Guerra dos Cinco Reis tocara-os a todos... embora o Arquimeistre Benedict insistisse que nunca houvera uma guerra de cinco reis, já que Renly Baratheon fora morto antes de Balon Greyjoy ter sido coroado.</p> <p>– Meu pai sempre disse que o mundo era maior do que o castelo de qualquer senhor – prosseguiu Mollander. – Os dragões devem ser a menor das coisas que um homem poderá encontrar em Qarth, Asshai e Yi Ti. Essas histórias dos marinheiros...</p> <p>– ... são histórias contadas por marinheiros – Armen o interrompeu. – <span class="Italic">Marinheiros</span>, meu caro Mollander. Vá até as docas e aposto que encontrará marinheiros que lhe falarão das sereias com as quais dormiram, ou de como passaram um ano na barriga de um peixe.</p> <p>– Como é que sabe que não passaram? – Mollander bateu os pés grama afora, à procura de mais maçãs. – Precisaria estar na barriga do peixe para jurar isto. Um marinheiro com uma história, tudo bem, um homem podia rir dela, mas quando remadores vindos de quatro navios diferentes contam a mesma história em quatro línguas diferentes...</p> <p>– A história <span class="Italic">não é</span> a mesma – insistiu Armen. – Dragões em Asshai, dragões em Qarth, dragões em Meereen, dragões dothraki, dragões libertando escravos... todas as histórias são diferentes umas das outras.</p> <p>– Só nos detalhes – Mollander ficava mais teimoso quando bebia, mas até sóbrio era obstinado. – Todos falam de <span class="Italic">dragões</span>, e de uma bela jovem rainha.</p> <p>O único dragão que interessava a Pate era feito de ouro amarelo. Perguntou a si mesmo o que teria acontecido ao alquimista. <span class="Italic">Ao terceiro dia... Ele disse que estaria aqui.</span></p> <p>– Há outra maçã perto do seu pé – gritou Alleras a Mollander –, e eu ainda tenho duas flechas na aljava.</p> <p>– Que se foda sua aljava – Mollander apanhou o fruto caído. – Ela está bichada – protestou, mas a atirou mesmo assim. A flecha atingiu a maçã quando ela começava a cair e a cortou ao meio. Uma metade caiu no telhado de um torreão, rolou até outro mais baixo e caiu; não atingiu Armen por meio metro.</p> <p>– Se cortar um verme na metade, criará dois vermes – informou-os o acólito.</p> <p>– Se ao menos acontecesse o mesmo com as maçãs, nunca ninguém precisaria passar fome – Alleras disse com um de seus sorrisos gentis. Esfinge andava sempre sorrindo, como se conhecesse algum gracejo secreto. Isto lhe dava um aspecto malicioso que combinava bem com o queixo pontiagudo, o bico que a linha dos cabelos formava no meio da testa e o denso matagal de cachos negros de azeviche cortados curtos.</p> <p>Alleras seria meistre. Só estava na Cidadela havia um ano, mas já forjara três elos de sua corrente de meistre. Armen podia ter mais, mas levara um ano para ganhar cada um deles. Mesmo assim, também chegaria a meistre. Roone e Mollander continuavam a ser noviços de pescoço rosado, mas Roone era muito novo, e Mollander gostava mais de beber do que de ler.</p> <p>Mas Pate...</p> <p>Estava na Cidadela havia cinco anos, chegara com não mais que treze anos, mas seu pescoço permanecia tão rosado quanto fora no dia em que viera das terras ocidentais. Julgara-se pronto por duas vezes. Da primeira, apresentara-se ao Arquimeistre Vaellyn para demonstrar seu conhecimento dos céus. Em vez disso, descobriu como foi que Vinagre Vaellyn ganhou este apelido. Pate levou dois anos reunindo coragem para voltar a tentar. Então, submetera-se ao velho e amável Arquimeistre Ebrose, famoso por sua voz suave e mãos gentis. Mas os suspiros de Ebrose revelaram-se tão dolorosos quanto as farpas de Vaellyn.</p> <p>– Uma última maçã – prometeu Alleras –, e eu conto a vocês minhas suspeitas acerca desses dragões.</p> <p>– O que você poderia saber que já não sei? – Mollander resmungou. Encontrou uma maçã num galho, saltou, arrancou-a e a arremessou. Alleras puxou a corda do arco até a orelha, virando-se habilmente para seguir o alvo. Atirou a flecha precisamente no momento em que a maçã começava a cair.</p> <p>– Falha sempre no último tiro – Roone disse.</p> <p>A maçã mergulhou no rio, intacta.</p> <p>– Viu? – Roone confirmou.</p> <p>– O dia em que se acertam todos os alvos é aquele em que se para de melhorar – Alleras desprendeu a corda do arco e o enfiou em seu estojo de couro. O arco fora esculpido em amagodouro, madeira rara e lendária das Ilhas do Verão. Pate tentara dobrá-lo uma vez e falhara. <span class="Italic">Esfinge parece franzino, mas há força naqueles braços magros</span>, refletiu, enquanto Alleras passava uma perna por sobre o banco e estendia a mão para a taça de vinho. – O dragão tem três cabeças – anunciou em sua arrastada pronúncia dornesa.</p> <p>– Isto é um enigma? – Roone quis saber. – Nas histórias, as esfinges sempre falam por enigmas.</p> <p>– Não é enigma nenhum – Alleras bebericou o vinho. Os outros emborcavam canecas da cidra terrivelmente forte pela qual Pena e Caneca era famoso, mas ele preferia os estranhos vinhos doces do país da mãe. Mesmo em Vilavelha, tais vinhos não se obtinham a baixo preço.</p> <p>Fora Leo Preguiçoso quem apelidara Alleras de “o Esfinge”. Uma esfinge é um pouco disso, um pouco daquilo: rosto humano, corpo de um leão, asas de um falcão. Alleras era igual: pai dornês e a mãe uma mulher de pele negra das Ilhas do Verão. Sua pele era escura como teca. E, tal como as esfinges de mármore verde que guardavam o portão principal da Cidadela, Alleras tinha olhos de ônix.</p> <p>– Nunca nenhum dragão teve três cabeças, exceto em escudos e bandeiras – disse Armen, o Acólito, com firmeza. – Isto é um símbolo heráldico, nada mais. Além disso, os Targaryen estão todos mortos.</p> <p>– Nem todos – disse Alleras. – O Rei Pedinte tinha uma irmã.</p> <p>– Achava que a cabeça dela tinha sido esmagada contra uma parede – Roone interveio.</p> <p>– Não – Alleras respondeu. – Foi a cabeça do jovem filho do Príncipe Rhaegar que foi atirada contra uma parede pelos bravos homens do Leão de Lannister. Estamos falando da irmã de Rhaegar, nascida em Pedra do Dragão antes de o castelo cair. Aquela a quem chamaram Daenerys.</p> <p>– A <span class="Italic">Nascida na Tormenta</span>. Agora me lembro – Mollander ergueu bem alto a caneca, agitando a cidra que restava. – A ela! – emborcou, bateu com a caneca vazia na mesa, arrotou e limpou a boca com as costas da mão. – Onde está Rosey? Nossa legítima rainha merece outra rodada de cidra, não acha?</p> <p>Armen, o Acólito, pareceu assustado.</p> <p>– Baixe a voz, imbecil. Nem devia brincar com essas coisas. Nunca se sabe quem pode estar ouvindo. A Aranha tem ouvidos por todo lado.</p> <p>– Oh, não mije nas calças Armen. Estava propondo uma nova rodada, não uma rebelião.</p> <p>Pate ouviu um risinho abafado. Uma voz suave e zombeteira gritou atrás dele.</p> <p>– Sempre soube que você era um traidor, Salto de Rã – Leo Preguiçoso estava encostado à entrada da antiga ponte de pranchas, envolto em cetim listrado de verde e dourado, com meia capa de seda negra presa ao ombro por uma rosa de jade. Pela cor das manchas, o vinho que deixara pingar na parte da frente do traje era um tinto robusto. Uma madeixa de seus cabelos louro-acinzentados caía-lhe por sobre um olho.</p> <p>Mollander irritou-se ao vê-lo.</p> <p>– Que se dane você. Vá embora. Não é bem-vindo aqui – Alleras pousou-lhe uma mão no braço, para acalmá-lo, enquanto Armen franzia as sobrancelhas.</p> <p>– Leo. Senhor. Julgava que ainda estaria confinado à Cidadela por...</p> <p>– ... mais três dias – Leo Preguiçoso encolheu os ombros. – Perestan diz que o mundo tem quarenta mil anos. Mollos, que tem quinhentos mil. Que são três dias, eu lhe pergunto? – embora houvesse uma dúzia de mesas vazias na varanda, Leo sentou-se na deles. – Pague-me uma taça de dourado da Árvore, Salto de Rã, e eu talvez não informe meu pai sobre seu brinde. As pedras viraram-se contra mim na Sorte Xadrez, e desperdicei meu último veado no jantar. Leitão com molho de ameixas, recheado com castanhas e trufas brancas. Um homem precisa comer. O que vocês comeram, rapazes?</p> <p>– Carneiro – Mollander resmungou. Não soava nada satisfeito com aquilo. – Dividimos um quarto de carneiro cozido.</p> <p>– Estou certo de que ficaram satisfeitos – Leo virou-se para Alleras. – O filho de um senhor devia ser generoso, Esfinge. Soube que ganhou seu elo de cobre. Bebo a isto.</p> <p>Alleras deu um sorriso.</p> <p>– Eu só pago aos amigos. E não sou nenhum filho de senhor, já lhe disse. Minha mãe era uma mercadora.</p> <p>Os olhos de Leo eram cor de avelã, e brilhavam de vinho e malícia.</p> <p>– Sua mãe era uma macaca das Ilhas do Verão. Os dorneses fodem qualquer coisa que tenha um buraco entre as pernas. Sem ofensa. Pode ser castanho como uma noz, mas pelo menos toma banho. Ao contrário de nosso criador de porcos malhados – indicou Pate com um aceno de mão.</p> <p><span class="Italic">Se batesse na boca dele com a caneca, podia partir metade de seus dentes</span>, Pate pensou. Pate Malhado, o criador de porcos, era o herói de mil histórias libertinas: um rústico de bom coração e cabeça vazia que sempre conseguia vencer os fidalgos gordos, os altivos cavaleiros e os septões pomposos que lhe criavam dificuldades. De algum modo, sua estupidez revelava ser uma espécie de astúcia rude; as histórias terminavam sempre com Pate Malhado sentado no cadeirão de um lorde ou dormindo com a filha de um cavaleiro. Mas eram só histórias. No mundo real, os criadores de porcos nunca se davam tão bem. Às vezes, Pate achava que a mãe devia odiá-lo para lhe ter dado o nome que dera.</p> <p>Alleras já não sorria mais.</p> <p>– Vá pedir desculpa.</p> <p>– Ah, vou? – Leo retrucou. – Como poderia, com minha garganta tão seca...</p> <p>– Envergonha sua Casa com cada palavra que pronuncia – disse-lhe Alleras. – Envergonha a Cidadela por ser um de nós.</p> <p>– Eu sei. Por isso pague-me um pouco de vinho, para que eu possa afogar minha vergonha.</p> <p>Mollander falou:</p> <p>– Eu gostaria de arrancar sua língua pela raiz.</p> <p>– Sério? E como é que eu lhe contaria sobre os dragões? – Leo voltou a encolher os ombros. – O mestiço tem razão. A filha do Rei Louco está viva e conseguiu fazer nascer três dragões.</p> <p>– Três? – Roone exclamou, espantado.</p> <p>Leo deu-lhe palmadinhas na mão.</p> <p>– Mais do que dois e menos do que quatro. Se eu fosse você não tentaria ganhar o elo dourado por enquanto.</p> <p>– Deixe-o em paz – Mollander o avisou.</p> <p>– Que Salto de Rã tão cavalheiresco. Como quiser. Todos os homens de todos os navios que velejaram a menos de cem léguas de Qarth estão falando sobre esses dragões. Alguns até lhes dirão que os viram. O Mago está inclinado a crer neles.</p> <p>Armen comprimiu os lábios em desaprovação:</p> <p>– Marwyn é insano. Arquimeistre Perestan seria o primeiro a lhe dizer isto.</p> <p>– Arquimeistre Ryam diz o mesmo – Roone rebateu.</p> <p>Leo bocejou:</p> <p>– O mar é molhado, o sol é quente e os animais enjaulados odeiam o cão de guarda.</p> <p><span class="Italic">Ele tem um nome zombeteiro para todo mundo</span>, Pate pensou, mas não podia negar que Marwyn se parecia mais com um cão de guarda do que com um meistre. <span class="Italic">É como se quisesse nos morder</span>. O Mago não era como os outros meistres. Diziam que se fazia acompanhar de prostitutas e de feiticeiros andantes, que falava com ibbeneses peludos e ilhéus do Verão negros como breu na própria língua desses povos, e fazia sacrifícios a deuses estranhos nos pequenos templos dos marinheiros que se erguiam junto aos cais. Os homens falavam que o tinham visto na parte erma da cidade, em arenas de ratazanas e bordéis negros, na companhia de saltimbancos, cantores, mercenários e até pedintes. Alguns chegavam mesmo a sussurrar que certa vez ele matara um homem com os punhos.</p> <p>Quando Marwyn regressou a Vilavelha, depois de passar oito anos no leste mapeando terras distantes, em busca de livros perdidos e aprendendo com feiticeiros e umbromantes, Vinagre Vaellyn apelidara-o de “Marwyn, o Mago”. O nome espalhara-se rapidamente por toda Vilavelha, para grande aborrecimento de Vaellyn.</p> <p>“Deixe os feitiços e as preces para os sacerdotes e os septões, e direcione a inteligência para a aprendizagem de verdades em que um homem possa confiar<span class="Italic">”</span>, aconselhara Arquimeistre Ryam certa vez a Pate, mas o anel, o bastão e a máscara de Ryam eram de ouro amarelo, e sua corrente de meistre não incluía um elo de aço valiriano.</p> <p>Armen olhou ao longo do nariz para Leo Preguiçoso. Tinha o nariz perfeito para isto, comprido, estreito e pontiagudo.</p> <p>– Arquimeistre Marwyn acredita em muitas coisas curiosas – disse –, mas não tem mais provas dos dragões do que Mollander. Só tem mais histórias de marinheiro.</p> <p>– Está enganado – Leo respondeu. – Há uma vela de vidro ardendo nos aposentos do Mago.</p> <p>Um silêncio caiu sobre a varanda iluminada por archotes. Armen suspirou e balançou a cabeça. Mollander pôs-se a rir. Esfinge estudou Leo com seus grandes olhos negros. Roone pareceu não compreender.</p> <p>Pate sabia das velas de vidro, embora nunca tivesse visto uma ardendo. Eram o segredo mais mal guardado da Cidadela. Dizia-se que tinham sido trazidas de Valíria para Vilavelha mil anos antes da Perdição. Ouvira dizer que havia quatro; uma verde e três negras, e todas altas e retorcidas.</p> <p>– O que são essas velas de vidro? – Roone quis saber.</p> <p>Armen, o Acólito, pigarreou:</p> <p>– Antes de um acólito proferir seus votos, deve passar a noite anterior de vigília na cripta. Não lhe é permitido archote, lâmpada, lanterna ou círio... só uma vela de obsidiana. Tem de passar a noite na escuridão, a menos que seja capaz de acendê-la. Alguns tentam. Os tolos e os teimosos, aqueles que estudaram os ditos mistérios superiores. É frequente cortarem os dedos, pois dizem que as arestas da vela são afiadas como navalhas. Então, com mãos ensanguentadas, têm de esperar a alvorada pensando sobre seu fracasso. Homens mais sensatos vão simplesmente dormir, ou passam a noite em oração, mas todos os anos há sempre alguns que precisam tentar.</p> <p>– Sim – Pate ouvira as mesmas histórias. – Mas de que <span class="Italic">serve</span> uma vela que não ilumina?</p> <p>– É uma lição – Armen explicou –, a última lição que temos de aprender antes de colocar nossa corrente de meistre. A vela de vidro representa a verdade e a aprendizagem, coisas raras, belas e frágeis. Tem a forma de uma vela para nos lembrar que um meistre deve iluminar o lugar em que presta serviço, e é afiada para nos lembrar que o conhecimento pode ser perigoso. Os sábios podem se tornar arrogantes com sua sabedoria, mas um meistre deve permanecer sempre humilde. A vela de vidro também nos lembra disso. Mesmo depois de ter proferido os votos, colocado a corrente e partido para servir, um meistre recordará a escuridão de sua vigília e se lembrará de que nada do que tentou conseguiu fazer que a vela acendesse... pois, mesmo com o conhecimento, algumas coisas não são possíveis.</p> <p>Leo Preguiçoso desatou a rir:</p> <p>– Não são possíveis para você, quer dizer. Vi a vela ardendo com meus próprios olhos.</p> <p>– Você viu <span class="Italic">uma</span> vela ardendo, não duvido – Armen rebateu. – Uma vela de cera negra, talvez.</p> <p>– Sei o que vi. A luz era estranha e brilhante, muito mais brilhante do que a de qualquer vela de cera de abelha ou de sebo. Criava sombras estranhas e a chama nunca oscilava, nem mesmo quando uma brisa soprou pela porta aberta atrás de mim.</p> <p>Armen cruzou os braços:</p> <p>– A obsidiana não arde.</p> <p>– <span class="Italic">Vidro de dragão</span> – Pate completou. – O povo a chama de vidro de dragão – não sabia por que, mas aquilo lhe parecia importante.</p> <p>– Pois que chame – meditou Alleras, o Esfinge –, e se houver de novo dragões no mundo...</p> <p>– Dragões e coisas mais sombrias – Leo completou. – As ovelhas cinzentas fecharam os olhos, mas o cão de guarda vê a verdade. Velhos poderes acordam. Sombras se agitam. Uma era de maravilha e terror cairá em breve sobre nós, uma era para deuses e heróis – espreguiçou-se, exibindo seu sorriso indolente. – Isto vale uma rodada, creio eu.</p> <p>– Já bebemos o suficiente – Armen os alertou. – A manhã chegará mais depressa do que gostaríamos, e o Arquimeistre Ebrose falará sobre as propriedades da urina. Aqueles que pretendem forjar um elo de prata fariam bem em comparecer à palestra.</p> <p>– Longe de mim afastar vocês da prova de mijo – Leo caçoou. – Cá pra nós, prefiro o sabor do dourado da Árvore.</p> <p>– Se a escolha for entre você e o mijo, eu bebo o mijo – Mollander afastou-se da mesa. – Venha, Roone.</p> <p>Esfinge estendeu a mão para o estojo do arco.</p> <p>– Para mim também é cama. Imagino que sonharei com dragões e velas de vidro.</p> <p>– Todos? – Leo encolheu os ombros. – Bem, a Rosey fica. Talvez acorde nossa pequena doçura e faça dela uma mulher.</p> <p>Alleras viu a expressão no rosto de Pate.</p> <p>– Se ele não tem um cobre para uma taça de vinho, não pode ter um dragão para a garota.</p> <p>– Sim – Mollander concordou. – Além disso, é preciso ser homem para fazer de uma garota uma mulher. Venha, Pate. O Velho Walgrave acordará quando o sol nascer. Ele vai precisar da sua ajuda para ir à latrina.</p> <p><span class="Italic">Se hoje se lembrar de quem sou</span>. O Arquimeistre Walgrave não tinha dificuldade em distinguir os corvos uns dos outros, mas não era tão bom com as pessoas. Havia dias em que parecia pensar que Pate era alguém chamado Cressen.</p> <p>– Ainda não – disse aos amigos. – Vou ficar por algum tempo – a alvorada ainda não rompera, não propriamente. O alquimista ainda podia aparecer, e Pate pretendia estar ali se viesse.</p> <p>– Como quiser – Armen assentiu. Alleras lançou um olhar demorado a Pate, depois pendurou o arco num ombro magro e seguiu os outros na direção da ponte. Mollander estava tão bêbado que tinha de caminhar apoiado no ombro de Roone para não cair. A Cidadela não ficava a grande distância em voo de corvo, mas nenhum deles era um corvo, e Vilavelha era um verdadeiro labirinto, cheia de ruelas, vielas entrecruzadas e ruas estreitas e tortuosas.</p> <p>– Cuidado – ouviu Armen dizer quando as névoas do rio engoliram os quatro –, a noite está úmida e as pedras estarão escorregadias.</p> <p>Quando desapareceram, Leo Preguiçoso observou amargamente Pate por cima da mesa.</p> <p>– Que tristeza. Esfinge escapuliu-se com toda sua prata, abandonando-me ao Pate Malhado, o criador de porcos – espreguiçou-se, bocejando. – Diga lá, como anda nossa adorável Roseyzinha?</p> <p>– Está dormindo – Pate respondeu secamente.</p> <p>– Nua, com certeza – Leo abriu um sorriso. – Acha que ela vale mesmo um dragão? Suponho que um dia terei de verificar.</p> <p>Pate sabia que não era boa ideia responder àquilo.</p> <p>Leo não precisava de resposta.</p> <p>– Suponho que uma vez que eu rasgue a garota, seu preço caia de forma que até criadores de porcos consigam pagá-la. Devia me agradecer.</p> <p><span class="Italic">Devia matar você</span>, pensou Pate, mas estava longe de se encontrar suficientemente bêbado para jogar a vida fora. Leo recebera treinamento em armas e tinha fama de ser mortífero com a espada de sicário e o punhal. E se Pate, de algum modo, conseguisse matá-lo, isto lhe custaria também a cabeça. Leo tinha dois nomes, enquanto Pate não possuía mais do que um, e o segundo era Tyrell. Sor Moryn Tyrell, comandante da Patrulha da Cidade de Vilavelha, era pai de Leo. Mace Tyrell, Senhor de Jardim de Cima e Protetor do Sul, era seu primo. E o Velho de Vilavelha, Lorde Leyton da Torralta, que incluía “Protetor da Cidadela” entre seus muitos títulos, era vassalo juramentado à Casa Tyrell. <span class="Italic">Deixe estar</span>, disse Pate a si mesmo. <span class="Italic">Ele diz essas coisas só para me ferir</span>.</p> <p>As névoas estavam se iluminando a leste. <span class="Italic">A alvorada</span>, Pate compreendeu. <span class="Italic">A alvorada chegou, e o alquimista não</span>. Não sabia se deveria rir ou chorar. <span class="Italic">Ainda serei um ladrão se devolver tudo e ninguém souber de nada?</span> Era outra pergunta para a qual não tinha resposta, como aquelas que Ebrose e Vaellyn lhe tinham feito outrora.</p> <p>Quando se afastou do banco e se levantou, a cidra terrivelmente forte subiu-lhe à cabeça toda de uma vez. Teve de se apoiar na mesa para se equilibrar.</p> <p>– Deixe Rosey em paz – disse, ao modo de despedida. – Deixe-a em paz, senão pode ser que eu o mate.</p> <p>Leo Tyrell afastou os cabelos do olho num movimento rápido:</p> <p>– Não travo duelos com criadores de porcos. Vá embora.</p> <p>Pate virou-se e atravessou a varanda. Seus calcanhares ressoaram nas desgastadas tábuas da velha ponte. Quando chegou ao outro lado, o céu oriental tornava-se rosado. <span class="Italic">O mundo é grande</span>, disse a si mesmo. <span class="Italic">Se comprasse o tal burro, ainda poderia vaguear pelas estradas e atalhos dos Sete Reinos, sangrando o povo e catando-lhe lêndeas dos cabelos. Podia oferecer-me num navio qualquer, puxar um remo e velejar para Qarth, a dos Portões de Jade, para ver esses malditos dragões com meus próprios olhos. Não preciso voltar para o velho Walgrave e os corvos.</span></p> <p>Mas sem saber como, os pés levaram-no na direção da Cidadela.</p> <p>Quando o primeiro raio de sol perfurou as nuvens a leste, os sinos matinais começaram a repicar no Septo do Marinheiro junto ao porto. O Septo do Senhor juntou-se ao primeiro um momento mais tarde, seguido pelos Sete Santuários em seus jardins do outro lado do Vinhomel e, por fim, o Septo Estrelado, que fora a sede do Alto Septão durante os mil anos que antecederam o desembarque de Aegon em Porto Real. Compunham uma música poderosa. <span class="Italic">Embora não tão doce quanto a de um pequeno rouxinol.</span></p> <p>Também ouvia cantos sob o repique dos sinos. Todas as manhãs, à primeira luz da aurora, os sacerdotes vermelhos reuniam-se para dar as boas-vindas ao sol no exterior de seu modesto templo erguido junto aos cais. <span class="Italic">Pois a noite é escura e cheia de terrores</span>. Pate ouvira-os gritar aquelas palavras uma centena de vezes, pedindo ao seu deus R’hllor para protegê-los da escuridão. Os Sete eram deuses suficientes para ele, mas ouvira dizer que Stannis Baratheon orava agora às fogueiras noturnas. Até pusera o coração flamejante de R’hllor em seus estandartes, em vez do veado coroado. <span class="Italic">Se ele conquistar o Trono de Ferro, vamos todos ter de aprender a letra da canção dos sacerdotes vermelhos</span>, Pate pensou, mas isto não era provável. Tyrion Lannister esmagara Stannis e R’hllor na Água Negra, e em breve acabaria com eles e espetaria a cabeça do pretendente Baratheon num espigão por cima dos portões de Porto Real.</p> <p>À medida que as névoas da noite se dissipavam, Vilavelha ia tomando forma à sua volta, emergindo fantasmagoricamente das sombras que antecediam a alvorada. Pate nunca vira Porto Real, mas sabia que era uma cidade de taipa, uma extensão de ruas lamacentas, telhados de colmo e telheiros de madeira. Vilavelha era construída em pedra, e todas as suas ruas eram calçadas com pedras, até a mais erma das vielas. A cidade nunca era tão bela como ao romper da aurora. A oeste do Vinhomel, as sedes das guildas ladeavam a margem como uma fileira de palácios. A montante, as cúpulas e torres da Cidadela erguiam-se de ambos os lados do rio, ligadas por pontes de pedra repletas de casas e edifícios públicos. A jusante, sob as muralhas de mármore negro e janelas arqueadas do Septo Estrelado, as mansões dos piedosos aglomeravam-se como crianças reunidas em torno dos pés de uma velha viúva rica.</p> <p>Mais adiante, onde o Vinhomel se alargava e mergulhava na Enseada dos Murmúrios, erguia-se a Torralta, com suas fogueiras de aviso brilhantes contra o fundo da aurora. Do local onde se erguia no topo das escarpas da Ilha da Batalha, sua sombra cortava a cidade como uma espada. Os nascidos e criados em Vilavelha sabiam dizer as horas pelo ponto onde a sombra caía. Alguns falavam que do topo da torre se conseguia ver tudo, até a Muralha. Talvez fosse por isso que Lorde Leyton não descia havia mais de uma década, preferindo governar sua cidade a partir das nuvens.</p> <p>A carroça de um açougueiro passou por Pate trovejando ao longo da estrada do rio, levando cinco leitões que guinchavam aflitos. Afastando-se de seu caminho, evitou por pouco ser salpicado quando uma mulher esvaziou um balde de dejetos noturnos de uma janela por cima dele. <span class="Italic">Quando for um meistre num castelo, terei um cavalo para montar</span>, pensou. Então, tropeçou numa pedra e perguntou a si mesmo quem estava tentando enganar. Para ele não haveria corrente, lugar de honra à mesa de um senhor ou um alto cavalo branco para montar. Seus dias seriam passados ouvindo o <span class="Italic">cuorc</span> dos corvos e lavando manchas de merda da roupa íntima do Arquimeistre Walgrave.</p> <p>Estava apoiado num joelho, tentando limpar a lama de sua veste, quando uma voz soou:</p> <p>– Bom dia, Pate.</p> <p>O alquimista estava em pé ao seu lado.</p> <p>Pate se levantou:</p> <p>– O terceiro dia... disse que estaria no Pena e Caneca.</p> <p>– Você estava com amigos. Não desejei me intrometer em sua camaradagem – o alquimista trajava um manto de viajante com capuz marrom e ordinário. O sol nascente espreitava por sobre os telhados atrás do seu ombro, tornando difícil distinguir o rosto dentro do capuz. – Já decidiu o que é?</p> <p><span class="Italic">Será que ele precisa me obrigar a dizer?</span></p> <p>– Suponho que sou um ladrão.</p> <p>– Achei que talvez fosse.</p> <p>A parte mais difícil tinha sido agachar-se para puxar o cofre que estava sob a cama do Arquimeistre Walgrave. Embora o cofre fosse robusto e reforçado com ferro, sua fechadura estava quebrada. Meistre Gormon suspeitava que Pate a danificara, mas não era verdade. Fora o próprio Walgrave quem quebrara a fechadura, depois de perder a chave que a abria.</p> <p>Lá dentro, Pate encontrara um saco de veados de prata, uma madeixa de cabelos louros atada com uma fita, uma miniatura pintada de uma mulher que se assemelhava a Walgrave (até no bigode) e uma manopla de cavaleiro feita de aço articulado, que pertencera a um príncipe, segundo Walgrave afirmava, embora já não parecesse ser capaz de se lembrar de qual deles. Quando Pate a sacudira, a chave caíra no chão.</p> <p><span class="Italic">Se eu a pegar, serei um ladrão</span>, lembrava-se de ter pensado. A chave era velha e pesada, feita de ferro negro; supostamente abria todas as portas da Cidadela. Só os arquimeistres possuíam chaves como aquela. Os outros transportavam as suas consigo ou as escondiam em algum local seguro, mas se Walgrave tivesse escondido a sua, nunca mais ninguém a veria. Pate pegou a chave e percorreu metade do caminho até a porta antes de voltar e pegar também a prata. Um ladrão era um ladrão, quer roube muito ou pouco. “<span class="Italic">Pate</span>”, chamara um dos corvos brancos, “<span class="Italic">Pate, Pate, Pate</span>.”</p> <p>– Tem o meu dragão? – perguntou ao alquimista.</p> <p>– Se você tiver o que quero.</p> <p>– Dê-me aqui. Quero ver – Pate não tencionava permitir que o enganassem.</p> <p>– A estrada do rio não é lugar para isto. Venha.</p> <p>Não teve tempo de pensar, de pesar suas alternativas. O alquimista se afastava. Pate tinha de segui-lo ou perderia tanto Rosey quanto o dragão, e para sempre. E foi o que fez. Enquanto caminhavam, enfiou a mão na manga. Conseguia sentir a chave, em segurança, dentro do bolso escondido que cosera ali. As vestes de meistre tinham bolsos por todo lado. Pate sabia disso desde rapaz.</p> <p>Tinha de se apressar para conseguir acompanhar os passos mais longos do alquimista. Desceram por uma viela, viraram uma esquina, atravessaram o antigo Mercado dos Ladrões, percorreram a Ruela do Trapeiro. Por fim, o homem entrou em outra viela, mais estreita do que a primeira.</p> <p>– Já chega – Pate disse. – Não há ninguém à nossa volta. Faremos a troca aqui.</p> <p>– Como quiser.</p> <p>– Quero o meu dragão.</p> <p>– Com certeza – a moeda surgiu. O alquimista a fez caminhar por sobre os nós dos dedos, da mesma maneira que fizera quando Rosey os apresentara. À luz da manhã o dragão cintilava enquanto se movia, e dava aos dedos do alquimista um brilho dourado.</p> <p>Pate tirou a moeda da mão do outro. O ouro parecia-lhe morno contra a pele da mão. Levou-o à boca e o trincou, como vira os homens fazer. Para falar a verdade, não tinha certeza de qual deveria ser o sabor do ouro, mas não queria parecer um tolo.</p> <p>– A chave? – o alquimista perguntou educadamente.</p> <p>Algo levou Pate a hesitar.</p> <p>– É algum livro que deseja? – dizia-se que alguns dos velhos pergaminhos valirianos trancados nas galerias subterrâneas eram as únicas cópias que restavam no mundo.</p> <p>– O que eu quero não é da sua conta.</p> <p>– Não – <span class="Italic">está feito</span>, disse Pate a si mesmo. <span class="Italic">Vá. Corra de volta ao Pena e Caneca, acorde Rosey com um beijo e diga-lhe que te pertence</span>. Mas, ainda assim se deixou-se ficar. – Mostre-me seu rosto.</p> <p>– Como quiser – o alquimista tirou o capuz.</p> <p>Era apenas um homem, e seu rosto era apenas isto. Um rosto de jovem, comum, com faces cheias e a sombra de uma barba. Uma tênue cicatriz entrevia-se na bochecha direita. Tinha um nariz adunco e uma densa cabeleira preta que se encaracolava, bem apertada, em volta das orelhas. Não era um rosto que Pate reconhecesse.</p> <p>– Não o conheço.</p> <p>– Nem eu a ti.</p> <p>– Quem é você?</p> <p>– Um estranho. Ninguém. De verdade.</p> <p>– Oh – Pate ficara sem palavras. Pegou a chave e a pousou na mão do estranho, experimentando a cabeça leve, sentindo-se quase com vertigens. <span class="Italic">Rosey</span>, recordou a si mesmo. – Então é tudo.</p> <p>Já tinha percorrido metade da viela quando o chão de pedras começou a se mover sob seus pés. <span class="Italic">As pedras estão escorregadias e úmidas</span>, pensou, mas não era isso. Sentia o coração martelando no peito.</p> <p>– O que está acontecendo? – perguntou. Suas pernas tinham se transformado em água. – Não compreendo.</p> <p>– E nunca compreenderás – respondeu uma voz num tom triste.</p> <p>O chão de pedras saltou para beijar o rapaz. Pate tentou gritar por ajuda, mas a voz também falhou.</p> <p>Seu último pensamento foi para Rosey.</p> </body> </html> ` if len(re.FindStringIndex(str)) > 0 { fmt.Println(re.FindString(str),"found at index",re.FindStringIndex(str)[0]) } }

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